Eterno Poema de Amor a Beleza

Eterno Poema de Amor a Beleza

domingo, 27 de maio de 2012

UMA TÍPICA E ÓTIMA HISTÓRIA DO INTERIOR NORDESTINO.

Nossa Lua de Mel




A nova rota dos casais em lua de mel é o oriente. A velha Europa também é muito visitada. Casais unem as alianças, fazem a festa no Paço dos Leões e solidificam o casório andando pelos mundos distantes. As colunas sociais seguem seus passos, sendo alimentadas pelos próprios, que tiram retrato e enviam pela internet. Uma beleza, um colosso, uma maravilha.

Quando eu casei, em 1978, também tive uma lua de mel daquelas.

Assim que Padre Trigueiro informou publicamente que eu e Dona Cacilda éramos marido e mulher, saímos da Igreja de Lourdes direto para o Ernani Sátyro, onde uma multidão de amigos e amigas nos esperava no terreiro para os comes e bebes. A casa do meu sogro Cabral era pequena, não comportava público, de modo que a festa se realizou do lado de fora, debaixo do poste.

Dali partimos, de táxi, para o Hotel Tropicana, onde dormiríamos nossa primeira noite.

Eu já estava triscado. Antes do casamento, dera uma parada estratégica no Cassino da Lagoa com o velho Miguel Fotógrafo, e, lá, derrubamos uma caixa de brahma da antarctica. Na casa de Cabral secamos o estoque de cana e cerveja guardado na velha bodeguinha do Jardim Sepol. Ainda no percurso para o hotel, nossos acompanhantes Ba, Eleika, Genebaldo, Zélia e Normando, nos intimaram a tomar a saideira no Azulzinho da Vasco da Gama, de modo que já cheguei quase pronto no Tropicana.

Ana Paula, a bela voz da Tabajara, nos esperava na recepção. Fez aquela festa, nos acompanhou até o apartamento e nos desejou felicidade. Lá dentro do quarto, pedi para tomar banho primeiro, enquanto Dona Cacilda se arrumava. Demorei uns 15 minutos no banheiro e, ao sair, quase mato a mulher de espanto. Parecia um fantasma com talco da cabeça aos pés.

-Que diabo é isso, homem de Deus? -, perguntou Dona Cacilda. E eu, com jeito de esperto: -É o talco do hotel, mulher, nós temos que aproveitar!”.

-Que do hotel que nada, seu idiota, esse é o meu talco que eu uso depois do banho!”, revelou desconsolada.

Tivemos nosso primeiro prejuízo.

Dona Cacilda foi tomar banho, eu me deitei vendo a tv e peguei no sono. Acordei com umas batidas na porta. Os da recepção escutaram os gritos da minha mulher, trancada no banheiro, a maçaneta arrancada, ela suando de bica e eu dormindo sem ouvir nada.

Os porteiros pensavam que nós estávamos brigando.

Assim mesmo terminou a noite, no dia seguinte tomamos aquele café da manhã e rumamos para a rodoviária velha, onde pegamos o Nacional de Luxo para Princesa, nossa lua de mel propriamente dita.

Na casa do Véi Migué e Dona Nila nos deram o quarto do meio, que era separado do quarto das meninas por um guarda roupa. Minha irmã caçula, já enxerida apesar de pequena, ficava o tempo todo brechando por baixo do guarda roupa, tentando ver a novidade. Nos deram uma cama de mola ringideira que fazia uma zoada danada a qualquer movimento, de modo que, nos cinco dias que por lá passamos, se alguma camaradagem fizemos, foi na surdina dos escondidos.

Bem, isso aconteceu há 34 anos. O mundo deu muitas voltas, muitas voltas ao redor do mundo demos, vieram os filhos, os netos, os cabelos brancos, as rugas, as dores nas juntas, a vista curta e as filas preferenciais, mas continuamos juntos. E achando bom.

Blog do Tião Lucena

Nenhum comentário:

Postar um comentário